Sobre portabilidade infantil e viagens

Crianças pequenas têm uma característica muito conveniente: são portáteis. O deslocamento com elas é fácil e só depende da vontade dos pais. Se elas começam a dar defeito, fazer manha, birra e malcriação, é só colocá-las debaixo do braço e carregá-las para outro lugar. Se elas dormirem, é só carregá-las, no colo ou no carrinho, e levá-las embora. E mesmo quando elas estão acordadas, dispostas e de bom humor, o procedimento é o mesmo e elas vão conosco para qualquer lugar.

Isso funcionou com João Guilherme até os cinco anos, mais ou menos. Não tinha embromação: quando queríamos nos mover e ele não queria colaborar, era só carregá-lo e pronto.

Só que… o tempo passou e o bonitão cresceu. Hoje ele já tem mais de 25 quilos, e não é tão fácil assim pegá-lo no colo. Fernanda não consegue mais: ele já tem metade do peso dela e só 40 centímetros a menos na altura. Eu mesmo não sinto mais aquela facilidade de antes, por mais que ele ainda queira que eu o carregue, ainda mais quando ele está com sono.

E não é só uma questão de tamanho. Antes não havia muito espaço para decisão dele, ele seguia os pais e pronto, assunto resolvido. Hoje, não é bem assim. Com sete anos e pouco, ele tem opiniões, argumentos, gostos e desgostos, e às vezes eles não combinam com os nossos. Não, minto: quase nunca eles combinam com os nossos. E aí a coisa encrenca.

Isso tem acontecido em viagens, como a que fizemos neste feriadão: tem se tornado comum que ele simplesmente não goste dos lugares para onde os levamos, os mesmos em relação aos quais criamos a maior expectativa justamente pensando que ele adoraria. E quando ele não gosta de um lugar ele fica chato para caramba, mas não dá para simplesmente colocá-lo em um carrinho e carregá-lo para lá e para cá, primeiro porque não há carrinhos que o comportem, segundo, e mais importante, porque seria simplesmente ridículo ficar circulando por aí com um garoto de sete anos em um carrinho.

A consequência disso é que temos viajado na base da tentativa e erro em relação ao João Guilherme. Às vezes dá certo e ele se diverte, às vezes não. E quando não dá certo, me bate uma frustração que beira a irritação. Afinal de contas, imagine-se preparando uma viagem com a convicção de que seu(sua) filh0(a) vai adorar, e no final ele não gosta, ou pior, não dá a mínima. Minha reação fica entre querer torcer o pescoço dele bem devagar e me resignar, assumindo que não deu certo e esperando ter mais sorte da próxima vez.

Esta tem sido, a propósito, uma reclamação recorrente de muitos pais de crianças da mesma idade do João Guilherme. Como não dá para exigir que eles compreendam a importância daquilo que eles estão fazendo, só nos resta insistir ou esperar até que eles amadureçam. Eu, particularmente, estou inclinado a esperar e viajar com a Fê para voltar a incluí-lo quando ele estiver maior, em torno dos dez anos. Acho que assim vai ser melhor para nós.

O Corvo

Bruce Lee, mestre de artes marciais e maior astro de filmes de kung fu da história, morreu em 1973, aos 32 anos, pouco antes do lançamento de “Operação Dragão”, seu último trabalho. Na ocasião, deixou a viúva, Linda, e o filho, Brandon, de oito anos de idade.

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Bruce Lee e o pequeno Brandon

Brandon cresceu e se tornou ator, atuando em filmes de ação. Em 1993, às vésperas do 20.º aniversário da morte do pai, durante as filmagens de “O Corvo”, ele sofreu um acidente bizarro no set de filmagens: durante a gravação de uma cena ele foi baleado e morreu porque o revólver utilizado estava carregado com munição de verdade ao invés de balas de festim. Ele tinha 28 anos. Por causa da tragédia, o filme somente foi lançado mais de um ano depois, em 1994.

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Brandon Lee

A arma foi disparada pelo ator Michael Massee, que, traumatizado, nunca viu o filme e ficou um tempo afastado da profissão. Eventualmente ele voltou a atuar e trabalhou em filmes como “Seven: Os Sete Crimes Capitais” (1995), “Vidas em Jogo” (1997) e “O Espetacular Homem-Aranha” 1 e 2 (2012 e 2014), além de séries como “Arquivo X”, “House”, “24 Horas”, “Alias”, “Supernatural” e “The Blacklist”. Bastante coisa, mas o que realmente marcou sua carreira foi o malfadado acontecimento.

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Michael Massee

Hoje recebi a notícia de que Michael Massee morreu, aos 61 anos. A data precisa e a causa do óbito não foram divulgadas pela família, e esta morte certamente não causará grande comoção no meio cultural e de entretenimento. Fico pensado se acaso o acidente não tivesse acontecido a carreira do falecido poderia ter alcançado outro patamar e sua morte chegaria a ser anunciada com mais emoção, mas se a imprensa mundial não fez isso, faço eu, que não poderia jamais deixar este evento passar em branco.

 

Legião Urbana

Musicalmente, minha adolescência, juventude e início da vida adulta foram à base de Legião Urbana. Eu era um daqueles garotos que tinham devoção pela banda e tratavam Renato Russo, seu líder e principal compositor, como um pregador. No último show da banda no Rio de Janeiro, em 17 de outubro de 1994, no Metropolitan, eu estava lá, emocionado como se estivesse participando de um culto e entoando “Pais e Filhos” como se fosse uma louvação. Isso não era incomum: os shows da Legião eram tão emocionalmente intensos que de vez em quando havia confusões, tanto que em 1988 Renato Russo declarou que não faria mais apresentações em Brasília por causa de brigas na plateia.

Os fãs da Legião Urbana eram engraçados. Víamos metáforas e mensagens subliminares em tudo que Renato Russo falava, cantava e escrevia, mesmo quando não havia nenhuma. Tudo o que vinha dele merecia atenção especial, como se dali saísse um testemunho da Verdade, o alento para a alma que sofria ou a orientação para a Virtude. Acho que isso vinha da personalidade magnética de Renato, que tinha carisma, aliada a seu aspecto fisicamente frágil. Ele tinha méritos de cantar canções que atingiam o coração da juventude dizendo o que a garotada queria ouvir e usando as palavras certas, especialmente no melhor período da banda, desde o lançamento do primeiro disco, “Legião Urbana”,  de 1985, ao quarto, “As Quatro Estações”, de 1989, durante o qual saíram suas músicas mais famosas e mais tocadas até hoje.

Não dá para negar a importância da Legião Urbana para a música brasileira. Ela tem suas raízes lá nos anos 70, no Aborto Elétrico, grupo de nome esquisito mas importantíssimo no cenário punk de Brasília, da qual também nasceu o Capital Inicial, que seguiu por outro caminho musical e, mal ou bem, está aí até hoje. Vêm da época do Aborto Elétrico músicas como “Ainda é Cedo”, “Eduardo e Mônica”, “Eu Sei”, “Que País é Esse?” ou “Faroeste Caboclo”, que virou até filme (uma porcaria indigna da música). Mas depois do auge, veio a fase sombria, que começou com “V”, de 1991, passou por “O Descobrimento do Brasil”, de 1994 e chegou ao auge em “A Tempestade (ou ‘O Livro dos Dias’)”, de 1996. São músicas densas, pesadas, tristes mesmo, inspiradas em corações partidos, decepções, perdas, partidas e luto, todas muito baixo astral, que coincidiram com o período no qual Renato Russo intensificou e eventualmente perdeu a luta contra a AIDS.

E foi na madrugada do dia 11 de outubro de 1996, quando eu estava voltando para casa, vindo do aniversário de uma amiga da faculdade (que tragicamente morreria no acidente da TAM em Congonhas, 2007) que ouvi, no rádio do carro, a notícia de que Renato Russo havia morrido aqui no Rio de Janeiro, vítima de complicações da AIDS. Àquela época, quase dois anos depois do show do Metropolitan, o culto onde eu e milhares de outros fiéis entoávamos louvores ao pregador Renato Russo, eu quase não ouvia mais a Legião porque não gostava das músicas deprê, e também porque me dedicava a outras coisas. Não havia mais nenhuma sintonia com a banda, enfim, mas fiquei triste, porque era o fim da Legião, a banda que foi parte da minha vida por tantos anos.

Hoje faz vinte anos que Renato Russo morreu e a Legião acabou. E por muito tempo nesses vinte anos uma disputa entre a família de Renato e os remanescentes da banda vem afetando o legado do grupo. Mesmo assim, foram feitos filmes, programas de televisão e peças de teatro em homenagem ao maior grupo musical do Brasil, que sobrevive, bem de acordo com a frase em latim que discretamente vinha impressa nos encartes de seus discos e CD: Urbana Legio omnia vincit (“a Legião Urbana a tudo vence”).

Pensei em muitas músicas para prestar minha homenagem neste post, das óbvias “Tempo Perdido”, “Eduardo e Mônica”, “Será”, “Pais e Filhos” ou “Faroeste Caboclo” a outras menos conhecidas, como “Metal Contra as Nuvens”, “Sereníssima”, “Dezesseis” ou “Perfeição”. Mas minha escolha recaiu sobre a música que cantarolei durante meses para ninar João Guilherme e é uma bela declaração de amor: “Sete Cidades”, do LP “As Quatro Estações”. E Viva a Legião.

 

Ainda a Peppa Pig

Pouco antes do dia dos pais, recebi, na caixa de correio do blog, um e-mail muito interessante de uma moça que se identificou como repórter do jornal Correio Braziliense. Ela me disse que estava preparando uma reportagem sobre o dia dos pais para a Revista do Correio, que é publicada aos domingos e distribuída com o jornal sobre “piadas que se fazem sobre pais”, como aquele meme em que um pai grudou seu bebê na parede com fita adesiva para poder jogar videogame em paz (tô sem tempo de procurar a imagem, desculpem, mas eu sei que você sabe o que é), e representações dos pais em desenhos animados, como a Família Dinossauro ou a Peppa Pig.

Ainda segundo a repórter, durante a pesquisa ela encontrou meu já famoso post sobre a Peppa Pig (o mais acessado post deste blog em toda a história do universo) e, diante do que eu escrevi, ela gostaria de saber se essa representação dos pais como “bobões” também me incomodava e se eu toparia conversar com ela a respeito do tema e do meu papel como pai.

Fiquei pensando uns minutos antes de responder, e fiz uma auto reflexão. Afinal, mais de dois anos depois, eu ainda não gosto da Peppa Pig? Por quê?

Aí eu respondi o e-mail dela dizendo que sim, claro que eu topava conversar, mas já fui antecipando meu ponto de vista.

Não tem problema representar os pais como bobões. Pelo contrário, acho que o “pai bobão” é legal para as crianças, porque é o momento em que mergulhamos no universo infantil delas, que se identificam e se divertem. João Guilherme adora quando eu banco o bobão. Ser bobão é uma concessão que nós, adultos, nos permitimos para entrar no universo das crianças, e com isso todo mundo se diverte.

Só que ser bobão não significa ser idiota, e esse é o problema da Peppa. A caracterização dos pais faz com que eles deixem de ser bobões e se transformem em duas bestas quadradas, o que acaba desvalorizando a relação pai e filho. Por isso eu acho um desenho ruim e continuo não gostando dele.

Quando eu era criança havia um desenho chamado “Bibo Pai & Bobi Filho” que apresentava o pai bobão, não idiota. Deixei um clipe aqui em baixo que é legal, e não tem problema se você não perceber a diferença entre “bobão” e “idiota” de que estou falando, ela é tênue mesmo, e muito subjetiva. Mas para mim é tudo muito claro.

Foi assim que eu respondi ao e-mail da repórter, e esperei que ela me ligasse para continuarmos a conversa. Mas ela nunca me ligou, e eu não consigo achar a reportagem, se é que ela realmente foi publicada.

1.º de julho (feat. Bobeatus FM)

O dia primeiro de julho é meio que um pária no calendário, coitado. Ao contrário de seu coirmão diametralmente oposto, o dia primeiro de janeiro, ninguém dá a mínima para ele, muito embora ele tenha relevância, sim: ele marca o início do segundo semestre do ano, o que significa que  primeira metade já foi (e foi muito rápido) e que só temos mais seis meses para realizar todas aquelas resoluções de ano novo que fizemos em primeiro de janeiro.

Portanto, primeiro de julho, essa data desprezada por todos, tem sim seu valor. Arrisco a dizer que é um semi-réveillon, hora de fazer o balanço do que foi o primeiro semestre, corrigir o que não funcionou como se esperava e aprimorar o que deu certo.

Aí, enquanto eu estava escrevendo, me deu um estalo e eu percebi que já havia escrito um post sobre este mesmo tema exatamente três anos atrás. Então, para fazer um pouco diferente, vou postar aqui a mesma música, mas em sua versão original: “Primeiro de Julho”, gravada pela Legião Urbana no disco “A Tempestade (ou o Livro dos Dias)”, de 1996 – o último gravado antes da morte do Renato Russo, em outubro daquele ano.

O Elo Perdido, o retorno

Há alguns anos eu escrevi um post criticando minha própria má vontade em ir ao barbeiro, o que, dada minha abundância capilar, me faz parecer com o Elo Perdido, ou o glorioso Chewbacca (se eu tivesse cabelo liso poderia parecer com o tio Itt, da Família Addams). Quase um Tony Ramos.

Agora aconteceu de novo. Só que dessa vez eu tenho um fanfarrão em casa que adora me cornetar e não perdeu mais essa oportunidade de me dar uma zoada.

Ontem ele olhou para mim e disse “ih, pai, você tá parecendo um lobisomem”.

Hora de fazer as pazes com a gilete e com a tesoura…

cabelo

Benhê, cade meu condicionador?!

Frente fria

Se eu bem me lembro, a última vez que tivemos inverno no Rio de Janeiro foi em 2012 – caiu em uma quarta feira. Depois disso, necas. No máximo um ou outro dia mais fresco, mas frio, frio mesmo, não.

Aí veio 2016, esse ano esquisito, e agora, em junho, o frio chegou. Chegou chegando, mostrando serviço mesmo. Tanto que eu fiz uma coisa que há anos não fazia: vesti um casaco – casaco de verdade, não aquelas coisinhas leves que os cariocas costumam usar quando a temperatura baixa de 25 graus.

Nem lembrava mais como era sentir frio, estava desacostumado.É muito desagradável esse “efeito cebola”, quer dizer, se cobrir com um monte de roupas e depois ter de tirar todas as camadas ao entrar em um ambiente fechado. Também é bem ruim acordar às seis e meia da manhã e reunir coragem para sair de baixo do cobertor e tomar um banho antes de ir trabalhar, além de sentir aquele friozinho incômodo nas mãos e no rosto (as únicas partes expostas do corpo) no caminho para o trabalho. Imagino como deve ser em uma cidade em que faz frio de verdade.

Tem outra coisa que me parte o coração no frio. É ver a população de rua, que tem aumentado muito nos últimos meses, fazendo de tudo para tentar se aquecer de alguma forma.

Por isso, mesmo reconhecendo que o inverno (que ainda nem começou) tem lá seu charme e traz uma luz única que deixa a cidade ainda mais bonita, eu não consigo gostar dele. Podem discordar, mas eu prefiro suar no calor do que ficar incomodado de frio desse jeito. Tudo bem que o verão não precisa ter os 50 graus dos últimos anos, mas que eu prefiro o calor ao frio, ah, sobre isso não tenho dúvida.

Ode ao desprezo

Não sei por que ainda perco meu tempo escrevendo sobre a Seleção Brasileira, mas vá lá. Me deu vontade e eu não tenho nada melhor para fazer agora.

Há muitos anos a outrora adorada Seleção vem passando por um nada discreto processo de glamourização e gourmetização, por meio do qual se dá cada vez mais importância à forma do que ao conteúdo, como vem acontecendo com tudo nesse mundo cada vez mais insosso. Se antes o jogador tinha de estar consagrado para chegar lá, hoje qualquer boçal é convocado com pompa e circunstância para ter seu passe valorizado e depois ser vendido (ou tentarem vendê-lo) por uma grana inacreditável para algum time da China ou um time lavanderia de dinheiro europeu e, assim, enriquecer os empresários que ocupam a comissão técnica naquele momento e, também, os dirigentes da CBF. Por essa razão vimos surgir fenômenos como Hulk, por exemplo, um centroavante tosco que nunca marcou um gol em partidas oficiais mas (ainda) é figurinha carimbada nas convocações da CBF. O capitão da Seleção, escolhido por sua autoridade em campo e legitimado pelo reconhecimento dos colegas, virou mais uma peça de marketing. Hoje o “cargo” é ocupado por um garoto que joga muita bola, mas que não tem nenhuma maturidade nem estofo para exercê-lo, não serve de exemplo dentro ou fora de campo.

Esse processo transformou a Seleção em um produto caro, que não é mais acessível ao torcedor. Ela passou a ser vendida em mercados premium platinum pica das galáxias e exibida em eventos corporativos. O Emirates Staduim se tornou o novo Maracanã; a China e o Oriente Médio, o novo Nordeste, onde ela sempre foi recebida com calor e carinho.

Isso foi afastando cada vez mais a Seleção do torcedor, e as trapalhadas que se seguiram só aumentaram o abismo. O itinerário louco traçado para a Copa de 2014 no qual ela só jogaria no Maracanã em uma final que só os alienados dirigentes da CBF achavam certa aumentou acirrou ainda mais a antipatia já crescente. Junto com isso, mais amistosos caça níqueis inúteis e, no meio do caminho, uma enganadora Copa das Confederações, que só serviu para jogar a poeira debaixo do tapete.

Aí veio o 7×1 e a “carta” da dona Lúcia, ainda mais constrangedora do que o placar daquele jogo, que foi até pouco. Ali chegou-se a imaginar que haveria mudança, porque do jeito que estava não podia ficar. De fato, não ficou: piorou ainda mais, o que prova mais uma vez que para baixo, realmente, não há limites.

Não sei o que foi mais patético na “renovação” proposta pela CBF no lisérgico pós Copa de 2014, se a contratação do Dunga ou a do Gilmar Rinaldi. Na dúvida, fico com os dois, porque há muito tempo eu não via uma demonstração tão descarada de alienação da CBF, uma afronta tão acintosa, uma surra de pau mole na cara do torcedor, que foi chamado de otário sem a menor cerimônia.

Agora, Dunga, que nem deveria ter vindo, se foi novamente, mas ele nem pode ser considerado o pior culpado pela campanha do Brasil nesta Copa América Centenário, ou pelo sexto lugar nas eliminatórias para a Copa de 2018 (que me parece cada vez mais distante). Ele estava em casa, levando a vida dele, não obrigou ninguém a contratá-lo. Culpado foi quem o colocou lá de volta, mesmo ciente de sua falta de aptidão para comandar um time de futebol: além de ser um treinador ruim, ele é péssimo no trato com as pessoas. Não une o time e não cativa o torcedor; ao contrário, com sua arrogância e rancor perante tudo e todos, ele só consegue a antipatia alheia.

A escolha de Dunga para treinador, agora desfeita às pressas para tentar salvar um projeto olímpico de importância superestimada (não sei por que essa secura toda por uma medalha olímpica, para mim a Seleção principal e a Copa do Mundo são muito mais importantes do que o futebol olímpico) e ganhar um pouco de fôlego, foi uma besteira própria de uma confederação cujo ex presidente está preso e o atual não pode nem fazer compras no Paraguai porque corre o risco de fazer companhia ao antecessor. Por isso, o presidente da CBF não comparece a nenhum jogo da Seleção nem participa de nenhum evento relacionado ao futebol brasileiro, que, aliás, a CBF, por absoluta falta de intimidade, faz de tudo para atrapalhar.

A situação atual, portanto, não é surpresa, novidade nem inesperada. Na verdade, se estivéssemos melhor do que isso em termos de futebol, isso seria, aí sim, uma grande surpresa. Ninguém dá mais a mínima para a Seleção. Nem as pedras jogadas nas derrotas vêm mais com o vigor e a fúria de antes. O desprezo é o sentimento dominante hoje, como percebi da conversa que tivemos com a gerente de uma loja de artigos esportivos quando lhe perguntamos se havia alguma camisa do Brasil para o João Guilherme. A resposta dela foi sintomática: “eu, não. Nem vai ter. Ninguém mais compra, tive de queimar o estoque anterior, então não vou pedir mais”.

Linguagem imprópria

Nem eu nem a Fê somos de falar muitos palavrões, e em casa nós falamos menos ainda. Mesmo assim, de vez em quando um ou outro acabam escorregando, e João Guilherme acaba ouvindo, mesmo porque para isso ele tem um ouvido de tuberculoso.

Claro que, se ele ouve, ele também fala. E tem falado bastante, até, principalmente para testar os limites, porque ele sabe que não gostamos. Todas as vezes que João Guilherme solta um palavrão vem um sermão depois, com as regras: palavrões devem ser evitados e casa, na escola e nas casas dos amigos e nunca, jamais, em hipótese alguma podem ser falados na frente das avós (acho que a minha mãe cai dura se ouvir o “meunetinholindobebêdavovó” falando um palavrão).

Mas de vez em quando um palavrão é inevitável mesmo, e nem os pais conseguem repreender. Como foi em outro dia, quando ele estava em um parque aquático e desceu um toboágua com o Cauê. Depois de muita indecisão do João, eles desceram. Depois da descida, João, animadíssimo, gritou, tão rápido que quase não deu para entender:

Isso é legal pra caralho! É tão maneiro que eu vou falar um palavrão! Puta que pariu!

Não deu pra segurar o riso. Ainda mais depois do que ele disse para o pai do Cauê:

Tio Thiago, o meu pai não gosta que eu fale palavrão, mas porra, foi legal demais!

Depois disso, só me restou dizer, rindo também:- Tá bom, João, dessa vez pode… mas não se empolga não!

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Qual não foi a minha surpresa quando vi nas estatísticas do site que este é o milésimo post do “Bobeatus Sunt…”. Mil posts! Caramba, quem diria, hein? Quando eu escrevi o primeiro, lá em 26 de setembro de 2008, não imaginava que chegaria tão longe. A postagem número 1.000 vem à luz mais de sete anos e meio depois do início e é interessante pensar que, se este blog fosse impresso, teria mil páginas de coisas que escrevi. Quero deixar um beijo para a Fê, para o João Guilherme, para a minha mãe, para o meu pai e para a Xuxa e dizer que, enquanto eu tiver paciência e disposição, vou continuar empilhando posts aqui neste espaço.