Pegadinha: modo de usar

– Edu, o João veio falar comigo. Ele quer pregar uma peça em você mas está preocupado porque não quer que você fique irritado.

Eu nem me surpreendo mais com coisas assim, conhecendo o João e a Fê como conheço.Mas fiquei curioso:

– Pregar uma peça? Uma pegadinha? Que pegadinha?

– Ele quer dizer pra você que vai no encerramento do futebol usando a camisa do Flamengo do Dente de Leite, porque ele “gostou” dela, mas na hora H ele iria mesmo com a camisa do Vasco e beijaria o escudo e tudo. Mas ele não quer que você fique irritado quando ele disser que vai com a camisa do Flamengo, porque na verdade ele vai com a camisa do Vasco e…

– Eu já entendi, Fê. É uma bela pegadinha, aliás. Mas ele não pode esperar que eu não fique irritado quando ele disser isso.

– Por que não?! É uma brincadeira! Ele só tem sete anos! Deixa de ser intolerante, é o seu filho, ele tem o direito de torcer para quem ele quiser, eu não quero que vocês fiquem brigando por causa de futebol, nem que você o obrigue a…

Suspirei. Mesmo sabendo que não adiantaria nada, resolvi explicar:

– Fê, meu amor, não tem nada a ver com futebol. Olha só: para se pregar uma peça, ou uma pegadinha, são necessárias duas coisas. Primeira: é surpresa – se não houver surpresa não é pegadinha, é encenação; segunda: a “vítima” TEM de ficar irritada. É da essência da pegadinha a irritação de quem é alvo da brincadeira, porque senão não é pegadinha, é piada. Entendeu? O funcionamento da pegadinha consiste exatamente em surpreender a vítima, submetê-la a uma situação que lhe é desagradável, incômoda, irritante e depois, repentinamente, revelar a verdade, no melhor estilo “enganei o bobo”.

Ela fez a cara de paisagem mais genuína que eu já vi, e eu não esperava outra coisa de alguém para quem uma piada é algo tão incompreensível quanto física de partículas. Nem insisti. Mais tarde, brincando com o João, abordei o assunto:

– Filho, olha só, quando alguém quer pregar uma peça em outra pessoa, tem de saber antes que essa pessoa vai ficar aborrecida. Isso é normal. Aí é que está a graça, é ver que alguém está irritado, chateado, aborrecido por causa de alguma coisa que não existe, não aconteceu. E depois, mais engraçado ainda é ver a cara de boba dela quando nós revelamos a verdade, que era tudo mentira, uma brincadeira, uma peça, uma pegadinha. É o “enganei o bobo na casca do ovo”! Entendeu?

João ficou olhando para mim, estático. Dava pra ver a fumacinha saindo da cabeça dele. De repente, ele falou:

– Tá bom, pai. Mas eu estou dizendo que vou no jogo de final de ano com a camisa do Flamengo só de mentirinha, porque eu quero pregar uma peça em você! Eu vou com a camisa do Vasco mesmo, e vou até beijar o escudo!

Desanimado, porque fica cada dia mais claro que ele é igual à mãe no quesito piadas e zoações, só respondi:

– Ótimo, João, tudo bem. Não vou ficar chateado não…

O Elo Perdido, o retorno

Há alguns anos eu escrevi um post criticando minha própria má vontade em ir ao barbeiro, o que, dada minha abundância capilar, me faz parecer com o Elo Perdido, ou o glorioso Chewbacca (se eu tivesse cabelo liso poderia parecer com o tio Itt, da Família Addams). Quase um Tony Ramos.

Agora aconteceu de novo. Só que dessa vez eu tenho um fanfarrão em casa que adora me cornetar e não perdeu mais essa oportunidade de me dar uma zoada.

Ontem ele olhou para mim e disse “ih, pai, você tá parecendo um lobisomem”.

Hora de fazer as pazes com a gilete e com a tesoura…

cabelo

Benhê, cade meu condicionador?!

Colunista Convidado, o retorno

Há quase cinco anos O Cachambi Não é Aqui saiu de férias e, para não deixar o espaço às moscas, o Leandro pediu para que alguns conhecidos escrevessem textos que seriam publicados durante a sua ausência. Eu tive a honra de ser um dos escolhidos, e tive a minha primeira experiência como “colunista convidado”, o que marcou o ápice da minha vida blogueira até então. Aí eu escrevi este post em resposta a outro que ele havia escrito, como previa a regra do negócio.

Pois o cidadão resolveu repetir a história, e desde o último sábado está no ar a minha segunda contribuição como colunista convidado para O Cachambi Não é Aqui, novamente respondendo um post do blog. É um texto autobiográfico, que me fez voltar no tempo e dar muita risada enquanto escrevia.

Tava pensando aqui… acho que vou fazer igual nas próximas férias, é uma ideia interessante e divertida. O problema é que eu só tenho dois leitores, e uma deles sumiu, desapareceu, escafedeu-se. Então ou a mulher toma vergonha e reaparece ou o Leandro vai ter de escrever bastante. A sorte (ou não) é que as minhas férias normalmente são curtas. Vamos aguardar.