O campeonato de futebol Dente de Leite do clube pode até ser lúdico, mas também é um negócio super organizado: as crianças têm treinos táticos, técnicos e até coletivos. Nesta semana teve treino e um coletivo com a garotada do América, como preparação para a rodada do próximo fim de semana, na qual o time do João enfrentará o Madureira.
O treino estava marcado para as sete e dez da noite, e às sete horas eu já estava lá, esperando pelo João Guilherme, que vinha de casa com a Fê. Ainda havia poucas crianças, que brincavam no campinho de grama sintética impecável enquanto resto do time não chegava. Foi quando eu recebi uma mensagem pelo WhatsApp: era o técnico, que estava avisando aos pais que estava atrasado e não sabia quando chegaria no clube. No fim, o pedido (e o susto): “Edu, me ajuda nessa?”
Levou uns instantes para eu realizar quem era o “Edu”. Ih, rapaz, eu, técnico do time das crianças? E agora? Fiquei um pouco assustado, mas era uma oportunidade que eu não podia perder. Procurei o técnico do América, que já estava iniciando o trabalho de aquecimento dos meninos dele e me apresentei, explicando que o técnico do time do João estava atrasado e tinha me pedido para substituí-lo. Ele, então, me avisou para reunir os garotos e fazermos um treinão técnico antes do coletivo.
Chamei a molecada e expliquei que o técnico ainda não tinha chegado e que eu ficaria no lugar dele. Falei quais atividades nós faríamos no treino e que depois haveria um joguinho amistoso com a turma do América. Tudo legal, mas havia uma criança que estava desconcertada com tudo aquilo.
João Guilherme parecia pasmo. Enquanto as crianças se organizavam para a prática, ele, incrédulo, veio falar comigo.
– Pai, você vai ser o nosso técnico?
– Vou, João, mas é só hoje, só porque o técnico não conseguiu chegar na hora do treino.
– Mas pai, você vai ser o meu técnico?!
– Qual é o problema, João? Não precisa ficar assustado. É só um treino, depois o técnico volta. Agora vai lá treinar.
Ele se juntou às outras crianças, ainda confuso. O treino correu sem problemas, com exercícios de domínio de bola, tabelas, marcação e chutes a gol de distâncias e ângulos diferentes. Na sequência, seguimos para o coletivo.Fiz uma preleção breve para ensinar rapidamente aos garotos minha mundialmente reconhecida tática da padaria, que consiste em atacar em massa e defender em bolo – amplamente adotada no futebol brasileiro, por exemplo – e para lembrá-los de que era só um treino, sem rivalidades nem brincadeiras. O placar era o menos importante, o que valia era jogar.
Depois disso, recebi um pedido do João:
– Pai, no jogo você me chama de “Filhão”?
– Tá bom, eu chamo. Mas por quê?
Fiquei sem resposta.
O coletivo correu sem problemas, só o João que não jogou bem. Ele estava ansioso para me agradar e não conseguia se concentrar, não queria sair de perto de mim e ficava longe do jogo. Por isso, as crianças não tocavam a bola para ele e ele ficava irritado, e isso o deixava mais ansioso e aí que ele não jogava nada mesmo.
No fim, o treino aconteceu sem que o técnico conseguisse chegar, mas isso acabou não sendo um problema. Falei com o técnico que tudo tinha ido bem e ele agradeceu. Mas sou eu quem tem a agradecer, porque me diverti muito e ainda pude conhecer melhor o time. No próximo treino ele reassume o posto mas se precisar de um auxiliar, já sabe:a gente estamos preparado aí, muito focados, coesos e imbuídos, graças a Deus, sempre prontos para assumir a responsabilidade, com muita humildade e determinação, respeitando nossos adversários e com o apoio da nossa torcida para conseguirmos nosso objetivo, que são os três pontos, se Deus quiser.