A linda Catedral de Santa Maria dei Fiori, ou Santa Maria das Flores, nome recebido em homenagem à flor símbolo da cidade de Florença, ou simplesmente “Il Duomo (O Domo)”, é um edifício que levou incríveis seiscentos anos para ficar pronto e, considerando-se que a conclusão da fachada, que marcou o término da construção, aconteceu no século XIX, é relativamente recente. Foi ali que começamos a ter ideia da verdadeira dimensão artística e cultural de Florença.
A Catedral domina uma grande praça, chamada, logicamente, de “Praça do Domo”, que também abriga a Torre Campanário, o Batistério e o Museu da Obra do Domo. Na praça desembocam cinco ruas de pedestre (o trânsito de automóveis é proibido no Centro Histórico de Florença), por onde surgem hordas de turistas embevecidos. Muitos deles, inclusive, chegam de charrete, aproveitando um passeio muito concorrido que é oferecido por “agentes turísticos informais” que pipocam por todo o lugar. É pitoresco mas, mesmo que quiséssemos brincar de cavalinho, as filas eram tão grandes que nem nos atrevemos. Além do mais, nosso interesse ali era conhecer a Catedral, o Batistério, o Campanário e o Museu.
O complexo deve ser visitado em duas etapas: em uma se conhece o Domo e em outra o Campanário, o Batistério, as criptas e o Museu da Obra. Esta segunda parte é mais barata, com os ingressos custando oito euros por pessoa, enquanto só o ingresso para o Domo custa quinze euros. Os horários de funcionamento também são distintos: o Domo está aberto à visitação de segunda a sexta, das 10h às 17h, sábados das 10h às 16h45, e domingos e feriados das 13h30 às 16h45; o Campanário recebe visitantes das 8h30 às 18h50, todos os dias; o Museu da Obra está aberto de segunda a sábado, das 9h às 18h50, e domingos e feriados, das 9h às 13h; e o Batistério, de segunda a sábado, das 12h15 às 18h30 (no primeiro sábado do mês ele está fechado) e domingos e feriados, das 8h30 às 13h30.
A Catedral é bonita e imponente por fora, mas é muito simples por dentro – simples demais, até, o que é surpreendente e, de certa forma, decepcionante. Por outro lado, é muito legal descer para conhecer a antiga Igreja de Santa Reparata (2 euros por pessoa), que existia no local e foi demolida no século XIII para a construção da Catedral atual. É bonita, propositalmente mantida na penumbra, com alguns bancos perto do que, suponho, era o altar original, formando um ambiente muito propício à meditação. Partes do piso e das paredes originais foram preservados e mantêm as pinturas originais – realmente muito bonito.
Chegou, então, a hora de encarar a primeira prova do dia: subir os 463 (isso mesmo, quatrocentos e sessenta e três) degraus que levam até o topo da cúpula. É uma subida e tanto, com vários trechos bastante estreitos (quem não se sente bem em lugares apertados pode se sentir incomodado) e em vários pontos é necessário parar para dar espaço para as pessoas que estão descendo, e em alguns desses pontos é necessário ficar bastante curvado. Há pontos de descanso, e alguns locais onde estão guardados instrumentos originais utilizados na obra da cúpula, que são bem interessantes. No fim das contas, a subida não é nenhuma tortura.
A nota triste é a quantidade de pichações que estão nas paredes e no teto das escadas. Realmente, é uma pocariada só, o que é estranho, dado o zelo com que os italianos cuidam de seus monumentos. O mesmo cenário de sujeira também é visto no Campanário, o que é frustrante. E, para quem acha que brasileiro é mau turista, fiquem sabendo que há pichações de muitos visitantes de países “civilizados”, como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Canadá…
A vista do alto da cúpula é muito bonita, abrangendo toda Florença e até onde a vista alcança. Há um corredor que a contorna, todo cercado de grades para evitar que engraçadinhos inventem moda e garantir a segurança de todos, e pode-se ficar lá o tempo que se quiser, para apreciar a paisagem. Depois disso é descer os 463 degraus de novo, já pensando na subida do Campanário, que também não é nenhuma molezinha não.
Saímos da Catedral e fomos direto para a Torre, onde mais 414 degraus nos esperavam para a subida até o topo. Aqui a subida é feita em vários andares, onde dá para parar e descansar, mas até que conseguimos subir bem. Lá de cima a vista não é tão impressionante como a da cúpula (que está bem mais acima), mas também é legal, especialmente ver a própria cúpula sob outro ângulo.
Depois de descermos o Campanário foi a vez de irmos para o batistério, que, ufa!, fica no nível do chão mesmo. Lá o que chama a atenção é a linda pia batismal e a impressionante pintura do teto. Sobre isso, preciso confessar que, embora o Cachambi tenha dito que até leigos poderiam identificar facilmente, ali, episódios da História da Salvação, eu só fui entender alguma coisa com o auxílio do guia que eu peguei na porta. Mas, para que ninguém tenha a dificuldade que eu tive, aqui vão as fotos do mosaico e a sua descrição:
Nas fotos acima, a grande figura de Jesus, dentro de um círculo perto da borda de baixo é o Juízo Final. A partir do centro do teto, em direção à borda, como uma história em quadrinhos, há os coros de anjos, as histórias do Livro da Gênese, as histórias de José, as histórias de Maria e Cristo, as histórias de São João Batista e, finalmente, mosaicos ornamentais. Muito lindo mesmo.
O Batistério também tem três portas: a sul, de Andrea Pisano, com cenas da vida de São João Batista; a norte, de Lorenzo Ghiberti, com cenas do Novo Testamento; e a leste, ou “Portão do Paraíso”, também de Lorenzo Ghiberti, que ostenta cenas do Velho Testamento. Todas as três são espetaculares, mas só a porta sul, para entrada, e a norte, para saída, são utilizadas pelo público.
Finalmente, fomos visitar o Museu da Obra do Domo. É um museu interessante, mas, sinceramente, não acrescentou muito mais ao que já tínhamos visto. Talvez se o tivéssemos visitado primeiro teríamos ficado mais impressionados com o acervo, mas àquela altura os 877 degraus estavam começando a cobrar a conta: cansados e com fome, já estávamos meio impacientes e resolvemos ir embora, muito satisfeitos com tudo o que havíamos conhecido.