A morte do Barão e o fim do automobilismo nacional

É meio emblemático que Wilson Fittipaldi, o “Barão”, tenha falecido, aos 92 anos de idade, na semana de início do Campeonato Mundial de Fórmula 1, a primeira em que somente um brasileiro disputará a temporada desde 1971, quando Emerson Fittipaldi, filho de Wilson, representou sozinho o Brasil no circo.

Emerson foi o precursor do automobilismo brasileiro na Europa e nos Estados Unidos, foi quem abriu as portas do mundo para os pilotos brasileiros, foi quem viabilizou o surgimento de Piquet, Senna, Barrichello, Massa e outros, foi quem começou nossa história de oito títulos mundiais e 99 vitórias na Fórmula 1. Ganhou dois títulos na F1, um na Indy e venceu duas vezes as 500 Milhas de Indianápolis. Mas ele não teria conseguido nada disso se não fosse seu pai, Wilson. Além de ter incentivado a carreira do filho, ele era radialista, e transmitia as corridas em uma época em que as corridas não eram televisionadas para o Brasil. Não havia meu querido GB, Reginaldo Leme, Mariana Becker, Carlos Gil e Luciano Burti – e eu perdi isso tudo!

O Barão transmitiu, ao vivo, pelo rádio, a conquista do primeiro título mundial de Fórmula 1 do filho, em Monza, 1972, fez o brasileiro saber que existia uma categoria de corridas que cruzava a Europa e os Estados Unidos, que tinha brasileiro ganhando lá, e eventualmente colaborou para que a categoria chegasse aqui ainda em 1972, com uma corrida exibição, e em 1973, já como etapa do campeonato.

Wilson Fittipaldi morreu junto com o automobilismo nacional: hoje temos Felipe Massa como único representante do país na Fórmula 1, as perspectivas de que haja outro depois da saída dele diminuem a cada ano, só temos um representante na GP2, principal categoria de base do mundo, que mesmo assim está bem mal das pernas.

O automobilismo no Brasil, que há vinte anos tinha F-Ford, F-Uno, F-Chevrolet, Kart e Brasileiro de Marcas, só pra falar das que eu lembro agora, todas com grids e arquibancadas cheios, hoje se restringe à Formula Truck e à Stock Car, ambas empregando em grande parte ex-pilotos em atividade ou pilotos que não conseguiram espaço em outras categorias de maior expressão, além de outros pilotos medíocres que brincam de correr para lavar dinheiro de patrocinadores obscuros, que correm geralmente em autódromos vazios ou para convidados de eventos corporativos. Além disso, não surgem novos talentos por aqui há tempos, e, para completar o desalento, os principais autódromos do país, aqueles de verdade, estão desaparecendo.

Wilson Fittipaldi ajudou a criar o automobilismo nacional, e morreu quando sua criação também agoniza. O ciclo se fechou, e perdemos o bonde da história.