Zeltweg, 2002

Ora, ora, ora… essa é muito boa.

Acompanho fórmula 1 regularmente desde 1987, quando o Piquet pai foi tri. São vinte e um anos vendo corridas, lendo jornais, revistas, sites e blogs, e mais tudo o que se refere à categoria. Já vi muita coisa, mas essa realmente me surpreendeu.

Para quem não se lembra, no Grande Prêmio da Áustria de 2002, disputado no circuito A1 Ring, em Zeltweg, Rubens Barrichello, então segundo piloto da Ferrari, cedeu a vitória para Michael Schumacher na última curva, depois de ter liderado a corrida toda. Foi uma cena patética, principalmente o pódio, em que o alemão cedeu o lugar dele para o brasileiro, que fez um doce mas aceitou rapidinho, e ainda pegou o troféu do outro. Na arquibancada, o público vaiava e jogava bandeirinhas para a pista. Uma vergonha.

O mais legal daquela transmissão foi o Cléber Machado, que narrava a corrida, gritando: “hoje não, hoje não! Hoje sim? Hoje sim…”. Assim que eu conseguir eu disponibilizo o vídeo aqui.

Bom, mas eis que, hoje, recebo a notícia que o jornalista Lemyr Martins publicou em seu livro mais recente, “Histórias, Lendas, Mistérios e Loucuras da Fórmula 1”, editado pela Panda Books, a “íntegra” do diálogo supostamente travado nas três voltas finais da corrida entre Rubens Barrichello, Jean Todt, então Diretor Técnico, um tal de Karl Shceister, que seria procurador-chefe da Ferrari, Michael Schumacher e até a mãe de Barrichello, dona Idely – vendada e de pulsos atados -, que nem estava no circuito naquele dia, o Cléber Machado até mencionou, quando o Barrichello ainda liderava, que “das 14 mães que foram pra corrida, a do Barrichello não foi, ela não tá aí perto pra comemorar a vitória”.

É sensacional. A parte que eu mais gostei é aquela em que fazem chantagem com ele mencionando uma cachorrinha chamada “Lulu”. E o mais impressionante é que alguém acreditou realmente que esse diálogo é verdadeiro, e mandou publicar! E publicaram!

Evidentemente que a verdade veio à tona logo, e o Lancenet!, que deu o “furo” de reportagem, já publicou um desmentido. Trata-se, evidentemente, de uma piada apócrifa que, percebeu-se depois, começou a circular em um fórum de discussão ainda em 2002, e que foi copiada e mal traduzida, o que deixou o texto totalmente sem sentido.

Eu leio os textos do Lemyr Martins há muito tempo. Ele trabalhou em revistas conceituadas como Quatro Rodas e Grid. E sempre foi um cara sério, muito embora tendesse a ser romântico demais, especialmente quando ele falava do Ayrton Senna. Mas essa foi demais. Depois de tantos anos, devem ser os primeiros sinais da senilidade. E ele ainda tentou defender o que escreveu com aquela justificativa idiota de “só falo com quem leu meu livro”. Só que quem leu também quer saber que raio passou pela cabela dele quando colocou aquela piada no livro dele. E aí?

O mais interessante é que o autor não ouviu o áudio da suposta gravação. Apenas confiou na fonte, que diz ser fidedigna. Aliás, ninguém ouviu nada, mas mesmo assim saem publicando por aí como se fosse a revelação mais surpreendente da História.

Bom, já deu pra perceber que fizeram um trabalho jornalístico mais que amador, pegaram a “transcrição” da internet, meteram em um tradutor on-line e fosse o que Deus quisesse. E deu nisso aí.

Espero que isso tenha sido só um golpe publicitário para promover o livro (o que, para mim, não deu certo), e que logo venha um esclarecimento do Lemyr Martins e da Panda Books. Evidentemente, um potencial comprador do livro (eu) já desistiu de comprar, até mesmo de ler. Que eles façam isso antes que o estrago piore.