Sobre o tempo

Ontem eu estava voltando para casa quando vi um garoto com o uniforme da escola onde eu estudei a vida toda, da primeira série ao vestibular. Era um garoto grande (não “alto”, grande mesmo) mas não parecia ter mais de 15 ou 16 anos, e estava acompanhado da mãe.

Não foi a primeira vez que isso aconteceu, mas sempre é uma sensação estranha encontrar alguém que estuda hoje em um lugar que era quase minha casa anos atrás. Minha vontade, como sempre acontece nessas horas, é me apresentar e dizer que eu já estudei lá, perguntar como anda a escola e saber se, talvez, algum dos meus professores daquele tempo ainda dão aula lá, mas eu sempre desisto.

Nós – o garoto com a mãe e eu – seguimos cada um seu caminho, mas eu comecei a pensar algo que nunca antes tinha passado pela minha cabeça: o menino parecia ter uns 16 anos, no máximo, mas, supondo que ele estivesse no último ano do ensino médio, ele poderia chegar a, talvez, 18 anos. Sendo assim, ele teria nascido em 1997 ou, quem sabe, esticando um pouco, 1996. Eu terminei a escola em 1993, quer dizer, pelo menos três anos antes de aquele garoto nascer. E se ele tiver mesmo 15 ou 16 anos, quer dizer que eu me formei seis ou sete anos antes de ele chegar. Pior: quando ele nasceu eu já tinha terminado a faculdade!

Foi meio que um choque de realidade, de repente eu me dei conta de como o tempo passou (oh, clichê). Me senti até meio ridículo imaginando uma conversa com aquele garoto, dizendo para ele que eu tinha estudado na mesma escola que ele anos antes de ele nascer, ele ia me achar uma relíquia. Perceber que há vinte anos eu estava completando vinte anos de idade é um pouco esquisito, embora eu realmente não me sinta nem um pouco velho – na verdade, sou muito mais eu hoje, às portas dos 40, do que aos 30. Mas não dá para discutir que o tempo está passando e que situações e experiências que (na minha memória, pelo menos) aconteceram ontem na verdade estão longe, bem lá atrás. E que aconteceu muita coisa nesse tempo todo desde a escola, tanta coisa que até impressiona. Mas, de modo geral, não posso reclamar, porque tem sido bem legal.

Escola nova

Ontem foi o primeiro dia de aula do João Guilherme na nova escola. Tiramos ele da escola anterior um ano antes do previsto porque achamos que estava na hora de colocá-lo em uma escola maior, com uma abordagem pedagógica diferente e, mais importante, mais perto de casa.

Infelizmente, João não vai mais ter a companhia dos comparsas na escola. Cauê e Diego também saíram da escola anterior, mas cada um foi para uma escola diferente, por isso nosso esforço vai ser concentrado em manter o contato deles nos fins de semana, feriados e férias. Por outro lado, outros seis coleguinhas que estudavam com ele até o ano passado o acompanharam neste ano, quatro dos quais ficaram na mesma sala dele. Isso deve ajudar na ambientação escolar e facilitar a socialização com os novos colegas, mas vamos ficar atentos para que os quatro não formem uma panelinha.

No fim do dia, quando cheguei em casa, fui conversar com ele sobre o primeiro dia de aula. Perguntei o que ele tinha achado da sala, da professora, dos colegas novos e dos antigos que também estavam lá, da quadra de futebol, do espaço do recreio… enfim, fui perguntando tudo o que vinha na cabeça para saber se ele tinha ficado bem ou não. No início, ele respondeu sem muito entusiasmo, mas a empolgação foi aumentando aos poucos à medida que conversávamos. Ele me disse que a professora, que se chama Gisele, é muito legal, que a sala de aula é bonita e grande, disse que estava contente porque tinha gente conhecida na turma dele, e que tinha encontrado o resto do pessoal no recreio. Falou que achou o pátio grande e que gostou muito da quadra de futebol, e que o professor de educação física, Felipe, é muito legal, colocou as crianças para jogar em todas as posições (“até no gol, pai!”) e que tinha uma menina que jogava com eles, e jogava muito bem.

Para tudo que ele dizia eu falava uma palavra de incentivo, cheia de entusiasmo, e me parece que isso ajudou. Expliquei para ele que futebol é um jogo tanto de meninos quanto de meninas também, e que tem muitas mulheres que jogam melhor do que muitos homens, como a Marta, e disse que um bom jogador tem de saber jogar em várias posições, para ser “versátil”. Falei que vai ser muito legal fazer amizades novas na escola, e que isso não significa abandonar os amigos de sempre, porque amizade é uma coisa que é maior do que sala de aula.

Acho que ele gostou da conversa, porque me deu um abraço e disse que me ama. Depois ficou lá, brincando. Começamos bem o ano letivo, o quinto da vida escolar dele. O primeiro dia foi bom, vamos ver se a escola vai ter um bom desempenho durante o ano todo.