E agora, Felipe?

Mas e o Massa, hein? Depois de 132 corridas, 11 vitórias e mais um monte de números a que só eu e o Leandro damos importância, ele comunicou sua saída da Ferrari, equipe pela qual corre desde 2006, mas mantém vínculo estreito desde 2001, quando ainda estava começando a correr na Europa. Durante este tempo, ele alternou bons e maus momentos, embora os maus tenham superado, em número e intensidade, os bons, e atingiu o ápice da carreira quando quaaaaaase foi campeão do Mundo em 2008, naquela decisão insana em Interlagos, na qual perdeu o título na última curva da última volta.

Falando francamente, a carreira de Felipe só foi relevante mesmo entre 2006 e 2008, quando foi inesperadamente alçado à condição de protagonista do mundial, algo que não acontecia havia quinze anos e Barrichello jamais conseguiu, em seus anos de Ferrari. Ele disputou o título com personalidade e aceitou a derrota com grande dignidade, ao invés de sucumbir à choradeira no estilo “um brasileirinho contra o resto do mundo” da RGT. Não parece grande coisa, mas isso é muito, muito importante, e talvez tenha sido o maior mérito do Massa em sua passagem pela Ferrari: ser homem.

Em 2009, porém, a casa caiu. Foi um ano de mudança no regulamento técnico, e o carro construído pela equipe era bem ruim. Pra piorar, o bizarro acidente da Hungria o tirou de metade da temporada, e dada a natureza da lesão (uma mola que se desprendeu do carro do Barrichello o atingiu bem na testa, pouco acima do olho esquerdo), muita gente chegou a duvidar que Massa conseguiria voltar a pilotar.

Eu até acho que o acidente afetou a capacidade de condução de Felipe, mas o que acabou mesmo com ele em 2010, ano em que ele voltou a correr, foi a presença do Fernando Alonso no time. Mas não é porque o espanhol é “mau”, ou porque armaram um complô para derrubar Felipe (uma tese que volta e meia meu querido GB e o pessoal da transmissão queriam levantar, mas que o próprio Massa sempre afastava nas entrevistas), mas simplesmente porque Alonso é muito melhor e, como aconteceu com Schumacher, as principais atenções da equipe seriam naturalmente voltadas para ele, que, afinal de contas, havia sido contratado para isso mesmo.

Claro que houve algumas sacanagens da equipe no caminho, como o episódio do “Fernando is faster than you”, totalmente desnecessário porque ainda era o GP da Alemanha, mas no geral me parece que Felipe sucumbiu à percepção de que o companheiro era bem superior a ele. Travou, em resumo. O fato é que ele nunca mais voltou a pilotar como nas temporadas de 2006 a 2008, quando chegou a ser chamado de “Nigel Massa”, porque andava muito mas também fazia um monte de barbaridades. Felipe se tornou um piloto burocrático e cansativo, comum, que perdia ritmo ao longo das corridas e frequentemente chegava bem atrás da posição na qual tinha largado. No fim das contas, houve um período, entre 2011 e o início de 2012, em que Massa podia ser mesmo considerado um peso morto para a Ferrari.

Na metade final da temporada passada houve até uma reação, uma sequência de boas atuações e resultados razoáveis que garantiram mais um ano de contrato e a esperança de que ele poderia ter recuperado a forma, mas isso não se confirmou em 2013. Ficou a impressão de que aquilo foi o canto do cisne de Felipe.

E agora, o que será? Eu concordo plenamente com o Flavio Gomes quando ele diz que para permanecer na Fórmula 1 será inevitável dar passos para trás. O único time que tem condições teóricas de entregar alguma coisa a algum piloto que tenha alguma pretensão além de fazer figuração é a Lotus, mas não se sabe o que acontecerá com ela ano que vem, quando tudo muda, e praticamente começaremos do zero com carros com motores de 1,6 litro, V6, com turbo. Para desenvolver o carro será necessário dinheiro, mas se o Kimi Raikkonen, que volta à Ferrari para ocupar o lugar de Massa, saiu do time justamente porque não acreditou nas garantias técnicas e financeiras que o time ofereceu, acho que não dá pra esperar muito da equipe em 2014.

(Aliás, é interessante perceber que, mesmo com as infinitas alterações de regulamento com a intenção de baratear custos, são sempre as mesmas equipes que continuam andando na frente, assim como continuam a ser as mesmas as que andam atrás. Nada muda, afinal.)

Só que também não tem nada certo quanto à ida de massa para a Lotus, porque a equipe também está de olho em outros pilotos, como Nico Hulkenberg. Isso quer dizer que há, sim, a possibilidade de Felipe ficar sem lugar no ano que vem, e aí um WEC, o mundial de endurança, seria uma saída bem interessante. Por outro lado, isso poderá representar o fim da história do Brasil na Fórmula 1, porque não há perspectiva de um outro piloto que possa chegar até lá – outro Felipe, o Nasr, tem visto suas chances diminuírem dia a dia com seu desempenho recente na GP2. Para quem se acostumou a títulos em sequência e vitórias aos montes, é um fim de linha bem melancólico, esse.