Negociata

– Pronto, João Guilherme, por hoje chega. Mais um desenho e depois você vai dormir.

– Mas mãe…

– Nada de “mas”. Já falei: só mais dois desenhos e você vai pra cama.

– Poxa, mãe!

– Não tem discussão! Mais três desenhos e acabou!

Realmente, uma aula de como se faz um acordo com o filho.

É a vida

Ontem recebi uma incumbência da Fernanda: buscar João Guilherme na escola. Tomado de animação, saí do trabalho mais cedo e peguei o metrô preocupado em não me atrasar, por dois motivos: primeiro porque eu não queria deixá-lo esperando (eu tenho trauma de ficar na escola esperando indefinidamente minha mãe ir me buscar – eu morava longe da escola e às vezes ela demorava para aparecer, por causa da distância e do trabalho), segundo porque depois de quinze minutos de atraso a escola cobra multa pela permanência da criança (eu acho isso ótimo, se existisse no meu tempo ou a minha mãe ia à falência, ou me trocava de escola, para uma mais perto, ou ela chegaria na hora pra me buscar).

Deu tudo certo e eu cheguei na hora. Me apresentei à professora que estava controlando a saída das crianças e disse que tinha ido buscar JG. Ela perguntou meu nome, se eu era o pai dele e foi conferir na secretaria (elas guardam cópias da identidade da Fê e minha). Tudo confirmado, chamaram o nome e a série dele pelo microfone para que a professora o trouxesse.

Depois de alguns minutos João Guilherme apareceu, de mãozinha dada com a professora, que segurava a mochila. Ao me ver abriu um sorrizão e correu falando “papai, papai”. Eu, que não me continha de orgulho, o peguei, abracei, beijei, fiz uma festa tão grande que esqueci das recomendações da Fê e não perguntei se ele tinha comido direito, cochilado ou feito cocô (poupem-me dessa história de “número 2”) direitinho.

Só que, pouco depois, veio o choque de realidade: João Guilherme, com uma expressão entre preocupado e curioso, perguntou “mamãe? Mamãe?” e ameaçou chorar. Pediu pra descer do colo e começou a caminhar, procurando pela Fê, que sempre vai pegá-lo na escola. Como ele não a viu, a ameaça se concretizou e ele começou a chorar mesmo.

Para sorte nossa ela, que não tinha ido à escola por conta de um compromisso, tinha conseguido terminar tudo antes do previsto e estava a caminho, e acabou conseguindo nos encontrar lá. A expressão de alívio dele foi a coisa mais genuína e sincera. Aí eu percebi realmente qual é o meu lugar nesta família. Mas tudo bem, são as agruras de ser pai.

Enferrujado

Desde que João Guilherme nasceu eu e a Fê abandonamos saídas, nights e afins; no máximo vamos esporadicamente a alguns happy hours com o pessoal do trabalho. Nossos programas, agora, são basicamente aqueles incluem uma criança de 1 ano e 3 meses: praia, parquinho, festa infantil, Jardim Botânico…

Recentemente, porém, um amigo da Fê e fez aniversário, e nos convidou para a comemoração em um boteco na Lapa. É um amigo de muitos anos, e não podíamos deixar de ir. Então fomos. Eu já tinha ido ao lugar em happy hours com o pessoal do trabalho, e sabia que era um boteco estiloso, daqueles de grife que todo mundo conhece. O que eu não sabia era que o local tem um terceiro andar em que funciona uma boate – exatamente onde o cara resolveu organizar a festa dele.

Eu não sei se estou desacostumado pelo tempo de “inatividade” ou se estou ficando velho mesmo, mas o mau atendimento, o ar condicionado desligado e o som muito alto me incomodaram demais! Não sei (mais), sinceramente, como alguém consegue se divertir ouvindo uma música tão alta.

(Aliás, pergunta: como é que alguém consegue chegar em uma menina assim? Ela não vai ouvir nada do que o cara está dizendo! Só se for uma técnica para incentivar a ação direta – chegar e pegar logo, sem papo.)

Depois de um tempo eu só queria ir pra casa, pensando comigo mesmo como eu tinha ficado tão enferrujado nesses assuntos de noitada em um ano e meio, até que todo mundo na mesa sucumbiu ao barulho, ao calor e ao mau atendimento e deciciu ir para o andar de baixo. Isso diminuiu minha sensação de “caretice”, mas constatei que, neste momento, estou curtindo muito mais os programas “de família” com JG. E digo mais: Lapa, hoje, é só pra happy hour depois do trabalho mesmo – e olhe lá.

JG de bicicleta!

Instalamos uma cadeirinha para o João Guilherme na bicicleta da Fernanda. Como ele ainda tem menos de 15 quilos, a cadeirinha ficou instalada na frente, entre ela e o guidão, e ficou muito engraçado. É que a Fê é pequenininha (tem só 1,48 metro), e por isso a bicicleta tem rodas aro 24″, ao contrário das bikes “normais”, que têm aro 26″. Além disso, por causa da cadeirinha, foi necessário baixar o selim para ela poder apoiar os pés no chão quando parar – antes ela dava um pulinho para a frente para descer -, o que fez com que ela passasse a pedalar com as pernas um pouco encolhidas e levemente abertas, em uma posição conhecida como “sapo”. É um pouco incômodo, mas daqui a pouco ele vai passar de 15 kg, e aí a cadeirinha vai poder ser instalada na parte de trás da magrela, facilitando bastante a vida dela nesse ponto.

O equipamento completo

Colocamos a cadeirinha na bicicleta da Fê porque ela leva JG pra todas as atividades que ele faz: ele ainda não está na escolinha, mas faz natação, vai a espaços de recreação, todos perto de casa. Assim a cadeirinha fica efetivamente funcional, com utilidade – se estivesse na minha bicicleta, ele só a usaria nos finais de semana, quando desse.

Nosso herói, por sua vez, ganhou de presente um capacete azul super charmoso, e fica super à vontade no transporte novo. Tanto que quase sempre dorme depois de algum tempo de pedalada, o que faz com que a Fê tenha de usar uma das mãos para apoiar a cabeça dele, enquanto a outra fica no guidão.

É puro charme!

Agora imagine só uma mulher pequena em uma bicicleta idem, com uma cadeira de bebê, uma cestinha e a tralha que a gente sempre tem de carregar quando sai com João Guilherme. Ver isso andando na ciclovia, então, é legal demais. Agora só falta uma buzina de bichinho para ele ficar apertando para avisar aos incautos e desatentos que sua alteza está passando.