Coroa

Um dos meus legados da Copa foi que João Guilherme começou a jogar futebol no Playstation. Ele viu a caixa do “Fifa 12” na estante e me pediu pra brincar, liguei o aparelho, preparei um joguinho fácil, entreguei o joystick para ele e saí. Lá do meu quarto eu o ouvia gritando “uh!”, “quase!” e “ah!”. Até que saiu o primeiro grito de gol, depois outro, e outro.

Aí eu resolvi dar uma conferida no desempenho dele, e vi que ele estava jogando bem direitinho, considerando a idade e que era a primeira vez. Direitinho até demais, na verdade: ele fazia umas jogadas que eu nunca tinha conseguido, e já estava cheio de intimidade com os controles.

Sentindo-me o próprio macho-alfa desafiado pelo membro mais jovem do grupo, resolvi jogar também. Como eu só tenho um joystick, combinamos que trocaríamos a cada gol marcado. Sentei no sofá ao lado dele e comecei a brincadeira.

Como eu não jogava havia muito tempo, demorei para me habituar com o joystick de novo e levei um sufoco horroroso. Já estava ficando irritado com meu desempenho, e os “uh!”, “ah!” e “pô, pai!” do João Guilherme a cada erro meu só pioravam a situação. Com o orgulho ferido, eu já estava quase apelando, até que consegui fazer um golzinho chorado. O alívio foi tão grande que eu até comemorei!

Aí João Guilherme, que estava em pé no sofá, à minha esquerda, deu três tapinhas de leve no alto da minha cabeça e disse, condescendente:

– Muito bom, pai. Nada mau para um coroa.

Eu não acreditei. Coroa?! Esse moleque não tem nem cinco anos! O pior é que eu não consegui responder, fiquei olhando para ele com cara de idiota, tentando entender o que tinha acontecido. Depois de uns segundos, balbuciei um “o quê?!”, mas ele já estava concentrado novamente no jogo.

E agora, José?

2 comentários sobre “Coroa

  1. A razão dá-se a quem tem. No caso, ela está com o JG…

    Acho que foi por isso que eu não consegui responder.

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